Um camponês criou um filhote de águia junto com suas galinhas,
tratando-a da mesma maneira que tratava as galinhas, de modo que ela
pensasse que também era uma galinha. Dava a mesma comida jogada no
chão, a mesma água num bebedouro rente ao solo, e fazendo-a ciscar para
complementar a alimentação, como se fosse uma galinha.
E a
águia passou a se portar como se galinha fosse.
Certo dia, passou por sua casa um naturalista, que vendo a águia ciscando no chão, foi falar com o camponês:
– Isto não é uma galinha, é uma águia!
O camponês retrucou:
– Agora ela não é mais uma águia, agora ela é uma galinha!
O naturalista disse:
– Não, uma águia é sempre uma águia, vamos ver uma coisa. Levou-a para cima da casa do camponês e elevou-a nos braços e disse:
– Voa, você é uma águia, assuma sua natureza!
– Mas a águia não voou, e o camponês disse:
– Eu não falei que ela agora era uma galinha!
O naturalista disse: amanhã veremos.
No dia seguinte, logo de manhã, eles subiram até o alto de uma montanha. O naturalista levantou a águia e disse:
–
Águia, veja este horizonte, veja o sol lá em cima,
e os campos verdes lá em baixo, veja, todas estas nuvens podem ser
suas. Desperte para sua natureza, e voe como águia que és.
A águia começou a ver tudo aquilo, e foi ficando maravilhada com a
beleza das coisas que nunca tinha visto, ficou um pouco confusa no
inicio, sem entender o porquê tinha ficado tanto tempo alienada.
Então ela sentiu seu sangue de águia correr nas veias, perfilou,
devagar, suas asas e partiu num voo lindo, até que desapareceu no
horizonte azul.
A águia gosta de pairar nas alturas, acima do mundo, não para ver as pessoas de cima, mas para estimulá-los a olhar para cima.
Voe cada vez mais alto, não se contente
com os grãos que lhe jogam para ciscar. Nós somos águias, não temos que
agir como galinhas.